As férias das crianças - Dicas para umas férias com qualidade!


As férias das crianças

Autor: Dra. Carla Ferreira - Psicóloga na rede H Saúde

Quando eu era criança as tardes de verão não tinham fim à vista. Estendiam-se pelo dia afora como se fossem uma eternidade, apenas cancelada pelo pôr do sol que ditava o fim da brincadeira, muito melhor do que qualquer chamamento proferido por uma mãe ou uma avó, quando estas ousavam interromper a tarde com o pretexto do lanche ou da brisa, que eventualmente se fizesse sentir mais forte. 

Esta liberdade permitia a existência de sonhos muito além do concreto e fazia com que dentro da cabeça das crianças se desenvolvesse um mundo cheio de vidas, porque havia espaço e tempo para que estas pudessem nascer.

O autoconhecimento daqui decorrente era importante e evolutivo, pois permitia explorar o mundo da fantasia com a magia do tempo livre, um privilégio que os tempos modernos retiraram aos mais novos, sobrecarregados de atividades várias, para passar o tempo ou proporcionar-lhes o que os pais gostariam de ter tido ou sido.

Compreendo que os dias passem hoje a uma velocidade e cadência diferentes dos de outrora. Compreendo que nem sempre os recursos existem acessíveis e de forma prática para poderem ser usados em prol da liberdade que recordo e compreendo ainda que os adultos necessitam de estruturas de apoio para que as crianças possam estar em segurança e cuidadas durante o verão, uma vez que muitas vezes é difícil conciliar as férias de ambos. Sendo assim, é necessário que os cuidados com o tempo livre dos mais novos seja redobrado, uma vez que há necessidade de partilha de espaços fechados, cumprimento de horários, entre outras regras das quais não será possível prescindir.

Por isso, deixo algumas ideias de reflexão, que poderão ser utilizadas por pais, familiares e educadores/ cuidadores, por forma a permitir aos mais pequenos um tempo de qualidade, sem descurar a monitorização necessária. Estas ideias podem servir de base para daqui se retirarem outras e construir-se deste modo um espaço apelativo para que os mais novos possam crescer em criatividade e liberdade.

1) Permita que, se possível, o seu filho disponha de tempo para passar com familiares disponíveis, avós ou outras pessoas, que possam ter tempo livre nesta altura do ano. Primeiro, porque o contacto saudável com a família é um bem inigualável e inestimável, que só irá beneficiar a criança. A história da nossa vida vem sempre carregada de memórias, e as que nos são passadas por pessoas que nos querem bem, constituirão sempre um território seguro e saudável. Nesses momentos poderão ser feitos jogos em família, receitas para o lanche, pode haver tempo para explorar a natureza, num quintal, num jardim ou num parque da cidade, de forma livre e descomprometida.

2) Nos tempos em que também estiver de férias, tente reservar tempo para relaxar e libertar ao máximo os horários, as regras e as rotinas (respeitando as elementares, claro está).

3) Se tem a seu cargo grupos de crianças, na qualidade de cuidador ou professor, não permita que as metas curriculares entrem clandestinas pelas férias dentro. Não é por estarem desligados das tarefas escolares que as crianças perderão o método e o conhecimento, pelo contrário. Esses espaços de vazio serão território fértil para estimular a curiosidade, e para que descansem dos objetivos mais rígidos, sempre presentes no decorrer do ano letivo.

4) O suposto tédio que pode surgir na desocupação, vai ser um terreno fértil para aumentar a adaptabilidade, a criatividade, a elaboração de estratégias, a evolução da exploração do mundo e da natureza. Não pretenda que as crianças estejam sempre distraídas. O excesso de estímulos é prejudicial. Cuidado com o uso excessivo de tablets, smartphones etc. Permita que tenham tempo livre pois têm capacidade de, por si próprias, preencherem o tempo com atividades que lhes façam sentido, perceber o que gostam mais, entender o que lhes dá mais prazer fazer, sem terem de corresponder permanentemente às sugestões dos adultos.

5) Ao gerir o seu tempo, a criança irá aprender a gerir-se a ela própria, nas suas rotinas e prioridades. Com a devida monitorização, este processo de crescimento é muito importante e estimulante. Não se assuste, eles têm competência para isto. 

6) Mesmo ao longo do ano letivo, algumas destas dicas devem servir de base para a continuação da gestão da vida das crianças.

A excessiva ocupação é um dos males dos tempos atuais, que acaba por retirar competências essenciais para o desenvolvimento saudável na continuidade da vida. Crianças super ocupadas serão certamente adolescentes mais impacientes, com maior dificuldade de encontro com o seu próprio self, com menos capacidade de introspeção e mais impulsividade. Para crescermos precisamos de estar, de esperar, de procurar. Precisamos de desafios, de dúvidas, de respostas e de tempo, muito tempo, para nos podermos esconder e encontrar.

 

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terça, 23 de agosto de 22