Comportamentos Aditivos e Dependências
Comportamentos Aditivos e Dependências: A importância de Prevenir e Intervir
Os dados apresentados em Portugal pelo Instituto para os Comportamentos
Aditivos e as Dependências (ICAD) em 2023, revelam que o uso de substâncias, como álcool e drogas, continua a ser um problema significativo, com 64% da população a relatar consumo de álcool e 2,5% de cannabis, nesse ano.
Além disso, as novas dependências comportamentais, como o uso excessivo de tecnologias, videojogos e apostas online, têm crescido, especialmente entre os jovens.
Estes dados realçam a necessidade da implementação de estratégias eficazes de prevenção e tratamento para essas novas formas de dependência.
Os comportamentos aditivos e as dependências são problemas complexos que podem envolver substâncias (como álcool, drogas e tabaco) ou atividades compulsivas (como jogos de azar, compras e uso excessivo da internet). Ambos compartilham a
perda de controlo, com o indivíduo a manter a prática mesmo ciente das consequências negativas. As dependências de substâncias geram tolerância e sintomas físicos ou psicológicos devido à abstinência. Já os comportamentos compulsivos, embora não envolvam substâncias, criam uma sensação temporária de alívio ou prazer, levando à
repetição contínua da atividade.
Quer sejam relacionados ao uso de substâncias ou a práticas compulsivas, causam sérias consequências e interferem na vida pessoal e profissional. A dificuldade em interromper essas ações é comum. A perda de controlo e o comprometimento das
funções cerebrais são fatores-chave, assim como a elevada taxa de recaída, que afeta
de 40% a 60% dos dependentes.
A origem dos comportamentos aditivos e dependências é multifatorial, com base em fatores genéticos, psicológicos, sociais e ambientais. Alterações químicas no cérebro também contribuem, mas há outras causas. A predisposição genética,
especialmente em famílias com histórico de dependência, aumenta o risco, enquanto fatores sociais como pressão cultural e facilidade de acesso a substâncias ou atividades compulsivas, também influenciam. Além disso, a presença de doenças mentais e experiências traumáticas, como abuso na infância, tornam as pessoas mais vulneráveis ao desenvolvimento de dependências e comportamentos aditivos.
O impacto destes comportamentos na saúde física e mental é enorme. Doenças crónicas como problemas hepáticos e cardiovasculares são comuns. Além disso, a saúde mental é gravemente afetada, levando a perturbações como depressão,
ansiedade e deterioração cognitiva, criando um ciclo vicioso que reforça o comportamento aditivo. As relações pessoais e profissionais também sofrem, resultando em perda de confiança, ruturas nos laços afetivos e diminuição da produtividade no trabalho.
A identificação precoce destes comportamentos é essencial para garantir uma intervenção eficaz. Apesar da diferença entre as várias adições, existem sinais comuns que incluem incapacidade de parar, perda de controlo, foco obsessivo na substância ou
comportamento, abandono de outras atividades, descuido com a higiene pessoal, negligência de responsabilidades, mudanças de humor, isolamento social, alterações nos padrões de sono e alimentação, problemas financeiros, mentiras e omissões,
atitude defensiva, negação ou minimização do problema.
A observação cuidadosa destes sinais pode facilitar o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
O tratamento das adições é complexo e deve ser estruturado de acordo com a gravidade e tipo de adição. Exige uma abordagem holística e multidisciplinar para lidar com a resistência ao tratamento e prevenir recaídas.
Nos casos miais graves, pode existir necessidade de internamento em Unidades de Desabituação ou Comunidades Terapêuticas, de modo a monitorizar os sintomas de abstinência e iniciar uma reabilitação de longo prazo, focada na recuperação contínua.
Ao mesmo tempo, a adesão a grupos de interajuda mútua, como Alcoólicos Anónimos, Narcóticos Anónimos, Jogadores Anónimos, entre outros, podem ser muito úteis na reabilitação, uma vez que promovem a partilha de experiências, proporcionando suporte essencial tanto ao paciente quanto à família.
A luta contra comportamentos aditivos e dependências apresenta desafios significativos, que incluem a alta taxa de recaídas, a resistência dos indivíduos ao tratamento e o estigma social que dificulta a procura de ajuda. Superar esses desafios
exige abordagens personalizadas e consistentes, que combinem suporte médico (de psiquiatria e neurologia), psicológico, combinado psicofármacos e psicoterapia, e social.
A intervenção especializada é fundamental para prevenir consequências físicas e mentais, restaurar relacionamentos e melhorar a qualidade de vida. A manutenção da sobriedade a longo prazo requer estratégias contínuas e mudanças de hábitos. O tratamento possibilita a quebra do ciclo de dependência e a reintegração social do
indivíduo.
Psicóloga Clínica
Maria Luísa Lameiras Rebelo
Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses
Cédula Profissional no 24144